"Os principais dirigentes do Banco Rural à época, justamente para encobrir o caráter simulado dessas operações de crédito, utilizaram-se dolosamente de mecanismos fraudulentos", disse o ministro. O relator afirmou que a cúpula da instituição financeira renovou sucessivamente os empréstimos para impedir a ocorrência de atrasos, distorceu a classificação de risco das transações, desrespeitou orientações da própria área técnica do banco e ignorou a falta de capacidade de pagamento dos beneficiários dos empréstimos.
O ministro informou ainda que, como os executivos do Banco Rural agiam nos moldes de uma "quadrilha criminosa" para dar ares de veracidade aos empréstimos, não é necessário que a acusação descreva individualmente cada ato delituoso imputado aos quatro réus. "É preciso lembrar que o crime foi praticado com concurso de pessoas em ação orquestrada com tarefas típicas de um grupo criminoso. Não é necessário que cada um dos réus tenham praticado todos os atos fraudulentos que caracterizam a gestão fraudulenta", explicou.
Lavagem - Entre outras irregularidades apontadas pelo Ministério Público e confirmadas pelo relator do mensalão, o Banco Rural também omitiu o registro de suas operações financeiras para tentar acobertar a fraude. Apesar de ter tratado diretamente apenas da acusação de gestão fraudulenta, o relator deixou claro que pedirá a condenação dos réus também por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. "Em divisão de tarefas típica de uma quadrilha organizada, de forma livre, consciente e com unidade de designios, eles utilizaram mecanismos fraudulentos para encobrir o caráter simulado desas operações de crédito", afirmou o ministro. "Os réus, ao atuarem dolosamente na simulação de empréstimos formalmente contraídos com o Banco Rural, com expressa infringência das regras, incorreram tanto no crime de gestão fraudulenta quanto no de lavagem", completou ele.
A posição de Barbosa sobre a veracidade dos empréstimos e a imputação de gestão fraudulenta torna mais delicada a situação de José Genoíno, então presidente do PT, e de Delúbio Soares, tesoureiro do partido à época da liberação dos recursos. A dupla representou o partido nas negociações com o banco e chegou a oferecer o próprio patrimônio como garantia.
Depois que Barbosa concluiu a apresentação de seu voto sobre esse trecho da acusação, a sessão foi suspensa para intervalo. Em seguida, o ministro revisor do processo, Ricardo Lewandowski, passrá a ler as suas alegações a respeito do caso.
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