Como beneficiados dos subornos foram identificados líderes do PP, PTB, PMDB e do PL, atual PR. O relator do processo, Joaquim Barbosa, chamou a atenção sobre o fato de que os subornados eram sempre chefes dos grupos parlamentares ou presidentes dos partidos. Os quatro partidos implicados fizeram parte da coalizão que apoiou a gestão de Lula e que, depois, se aliou a atual presidente, Dilma Rousseff.
O presidente do STF, ministro Ayres Britto, disse que "houve uma rede de arrecadação criminosa de recursos públicos e privados" que "corrompeu partidos e parlamentares em um projeto de continuidade política idealizado por um núcleo político", que deu lugar a uma "progressiva perpetuação de delitos em quantidades enlouquecidas". Aceitando que a rede se alimentou de dinheiro público e também que ocorreram subornos no Congresso, nas próximas sessões o tribunal analisará as denúncias contra os supostos corruptores.
De acordo com a acusação formulada pela Procuradoria Geral da República, o núcleo político que dirigia toda a rede tinha como chefe José Dirceu, na época chefe da Casa Civil de Lula e considerado o "homem forte" de seu governo. Dirceu não se pronunciou sobre o assunto desde que começou o processo, mas ao longo dos últimos sete anos vem dizendo que é "vítima" de uma "invenção" da "elite" brasileira, que não aceitou nunca que Lula e o PT finalmente tivessem chegado ao poder.
No entanto, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, declarou na última segunda-feira que nos autos do processo "existe uma quantidade torrencial de provas" contra Dirceu, que demonstram que o petista "foi o líder, o mentor e o chefe da quadrilha". Gurgel disse ainda que uma vez provada a corrupção passiva no caso dos parlamentares subornados, agora "necessariamente deverá existir culpados de corrupção ativa", entre eles Dirceu, Genoíno e Delúbio.
O mensalão do PT Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.
No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex- presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.
Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.
O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.
Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.
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