A tensão militar na península coreana vai se agravar nos próximos dias, mas não deve causar um conflito armado, segundo especialistas entrevistados pelo R7. No entanto, eles alertam que uma guerra na região nunca esteve tão próxima. E caso isso aconteça, são grandes as chances de que as temidas bombas atômicas voltem a cair.
“A região é um barril de pólvora”, afirma o especialista em Ásia Argemiro Procópio, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília.
— A Coreia do Norte está em uma região que é a mais armada com bomba atômica do mundo.
Além da Coreia do Norte, outros quatro países próximos possuem armamento nuclear: China, Rússia, Índia e Paquistão. O barril fica ainda mais cheio com o arsenal atômico dos Estados Unidos, que se mostram dispostos a defender a todo custo aliados como Japão e Coreia do Sul.
Os especialistas em segurança internacional não acreditam que uma guerra real venha a eclodir, já que as ameaças do ditador norte-coreano Kim Jong-un são um recurso corriqueiro na política externa do país: o regime fala muito, mas não faz nada. Foi assim durante os 17 anos de governo de Kim Jong-il (1994-2011), pai do atual líder.
No entanto, as ameaças desta vez trazem dois ingredientes novos — e perigosos: não há muitas informações sobre o jovem Kim Jong-un, que tem menos de 30 anos e vem enfrentando problemas desde a morte de seu pai para se firmar no poder e conquistar a elite política e militar do país.
Além disso, a Coreia do Norte rasgou no fim de semana seus acordos de não agressão com o vizinho do Sul — algo que não ocorreu em 60 anos de cessar-fogo.
“A Coreia do Norte sempre ameaça, mas acaba não concretizando [as ameaças]. A novidade agora é que ninguém conhece Kim Jong-un enquanto líder, então existe um risco a mais”, afirma Bernardo Wahl Gonçalves de Araújo Jorge, professor de relações internacionais da FAAP.
— Por causa dessas incertezas, a possibilidade de conflito é um pouco maior.
Além do barulho, o jogo de ameaças de Jong-un deixa claro uma certeza: as armas nucleares estão sobre a mesa. É o que avaliam os analistas em segurança internacional Keir A. Lieber e Daryl G. Press, em artigo publicado na revista especializada Foreign Affairs.
— A atual crise aumentou substancialmente o risco de um conflito convencional, e qualquer guerra tradicional com a Coreia do Norte corre o risco de se tornar nuclear.
Considerando o nível de tensão a que a península chegou, “é provável que uma falha de comunicação, um disparo, ou outro acontecimento, leve a um conflito”, afirma Araújo Jorge.
— E um conflito convencional pode causar uma escalada que leve a um conflito nuclear. Embora esse risco seja remoto, ele deve ser levado em consideração.
Em razão disso, Lieber e Press alertam que, apesar de o objetivo dos EUA seja impedir a guerra, “é igualmente importante tomar medidas para diminuir os riscos de uma escalada nuclear, no caso de uma guerra real acontecer”.
R7