Estado ainda é 2º maior
Mesmo assim, o Ceará continua como o segundo maior produtor de rosas no País, atrás apenas de Minas Gerais.
Selbach afirma que a principal dificuldade tem sido manter a qualidade das rosas, já que não é possível ter a umidade ideal dentro da estufa. "Usamos menos água que a agricultura normal, mas sofremos muito com a seca exatamente porque precisamos de água para manter a umidade relativa dentro das estufas. A planta está tomando água, mas o ambiente não está propício", destaca.
De acordo com ele, a umidade relativa na Serra da Ibiapaba, fora de uma estufa, já chegou a alcançar 20%.
Qualidade
A queda na qualidade do produto também é um dos maiores problemas indicados pela gerente de vendas da Flora Tropical, Silvania Nuto.
"Com a seca, o produto fica mais ressecado e não tem uma durabilidade muito grande. Quanto mais irrigada, melhor", afirma. Mesmo com as dificuldades, ela diz que a produção ainda não começou a cair, sendo em torno de 15 hectares de área plantada. Contudo, não existe perspectiva de novas expansões. Focada em flores tropicais, a empresa produz, na Serra de Baturité, até 80 toneladas por ano.
"Um lugar, que teria mais água, que tem um clima melhor, está com muita dificuldade. Ano passado, no segundo semestre, furamos dois poços de 80 metros de profundidade e a vazão foi muito pequena", diz.
Com uma produção iniciada no fim dos anos 1970, Silvania afirma que essa é a pior seca enfrentada pela empresa. "Venho sentindo que os mananciais da Serra estão diminuindo mais. Acho que é mais uma questão ecológica", destaca.
Preços sobem até 15%
O vice-presidente da Associação Cearense de Floristas, Roberto Ito, afirma que o fornecimento está prejudicado, principalmente dos produtos de folhagens e componentes - como haste, tango e gipsófila. Porém, ele afirma que ainda não foi preciso trazer de outros estados.
Pequenos sofrem
"O governo não dá a assistência necessária que deveria dar ao pequeno produtor para desenvolver o negócio"
Paulo Selbach
Presidente da Câmara Setorial de Flores e Plantas Ornamentais
Floricultores ainda esperam chuvas
"Deus vai mandar uma chuva bem boa para a gente", afirma, esperançosa, a pequena produtora de flores na Serra da Ibiapaba, Mires Aguiar, que chegou a passar dois meses sem produzir por conta da seca. Antes movida por nove pessoas, a empresa hoje só conta com ela, o marido e mais dois empregados. E é a única fonte de renda da família. Foram 78 canteiros de 20 metros perdidos, cada um com 1.500 hastes de crisântemos. A produção passou de 14 mil por semana para 10 mil durante a quinzena.
Das associações produtoras de flores do Estado, mais de 40 já pararam os trabalhos apenas nas regiões do Cariri e do Maciço de Baturité. Os dados, divulgados pelo o coordenador de Agricultura Irrigada da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), Erivan Marreiros, revelam como são os impactos aos pequenos produtores.
Nos municípios de Crato e Barbalha, no Cariri, a produção de flores temperadas foi reduzida a quase zero, queda percebida desde o primeiro semestre de 2012. Em Pacoti, Guaramiranga e Baturité, no Maciço, a queda significativa foi sentida a partir do segundo semestre.
Burocracia
Já no caso de Mires, a opção para evitar a paralisação total foi cavar um poço profundo, com recursos adquiridos por meio de empréstimo. Porém, por conta da "burocracia", ela espera retorno do banco financiador desde julho do ano passado. A expectativa é que o recurso chegue nos próximos dias. Mas, o receio é que o novo poço não dê água.
"Fizemos buracos na beira do rio e tentamos de tudo para não perder a produção do campo. Cheguei até a utilizar a água da Cagece, mas não foi suficiente. Utilizamos todas as nossas economias para nos manter", afirma Mires. Hoje, a água utilizada vem de um poço artesiano.
Perspectiva
Para Erivan Marreiros, com os recursos federais anunciados pela presidente Dilma Rousseff neste mês, existe perspectiva de que a situação melhore. "Estamos aguardando a fatia do Ceará e as regras para o emprego da verba. Além das possíveis soluções, como poços e entregas de kits de irrigação, podem ser pensadas vendas coletivas, por exemplo, que facilitam a sobrevivência dos pequenos produtores", aconselha o coordenador.
Mires Aguiar espera que o retorno ocorra de forma mais rápida, para sanar os problemas enfrentados em todo o Ceará. "Eu queria que o governo olhasse mais para os pequenos produtores. Não só do ramo de floricultura, mas também do ramo de verdura, hortifrúti. Os produtores da Serra da Ibiapaba estão enfrentando um verdadeiro caos. Tem muitos pais de família desempregados", lamenta. (GR)
Fonte: Dn