Dylan Farrow, 28, filha adotiva do diretor Woody Allen e da atriz Mia Farrow, relatou em carta publicada num blog do "New York Times", neste sábado (1º), o suposto abuso sexual que sofreu do cineasta.
Foi a primeira vez que ela escreveu sobre o caso, que veio à tona em 1993, durante a separação de Allen e Mia Farrow. Em nota, o diretor afirmou que o texto de Dylan é mentiroso e infame.
"Quando eu tinha sete anos, Woody Allen me tomou pela mão e me levou para o sótão no segundo andar de nossa casa", escreveu. "Ele me disse para eu ficar de bruços e brincar com o trenzinho elétrico do meu irmão. Então, ele me agrediu sexualmente. Falou comigo, sussurrando que eu era uma boa menina, que era o nosso segredo, e prometendo que eu seria uma estrela em seus filmes."
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Imagem de Dylan Farrow em reprodução da página do site do "New York Times" que publicou sua carta com acusações contra Woody Allen |
No texto, Dylan –que participou dos filmes "Contos de Nova York" (1989) e "Simplesmente Alice" (1990), ambos dirigidos por Allen –, afirma que desenvolveu transtornos alimentares e automutilação em consequência do trauma sofrido.
"Cada vez que eu via o rosto do meu agressor em um cartaz ou em uma camiseta ou na televisão, eu só podia esconder o meu pânico até encontrar um lugar onde pudesse ficar sozinha e desmoronar."
Dylan é uma das duas crianças adotadas por Allen e Farrow nos anos 1980 –o outro é Moses, 36. Além deles, o casal teve um filho, o ator Ronan Farrow, 26. Woody Allen se separou da mulher quando ele se envolveu com a enteada coreana Soon-Yi Previn, filha adotiva de Mia de um casamento anterior, com o compositor e pianista André Previn. O caso foi para os tribunais, onde surgiu a acusação de que Allen abusara sexualmente de Dylan.
O história voltou à tona no começo de janeiro, quando Allen foi homenageado no Globo de Ouro. Mia Farrow e Ronan criticaram o diretor nas redes sociais.
Na ocasião, Ronan –que já sugeriu ser na verdade filho de Frank Sinatra–, tuitou: "Perdi o tributo a Woody Allen. Eles colocaram a parte em que uma mulher confirma que foi molestada por ele aos sete anos antes ou depois de 'Annie Hall'?".
No carta, Dylan comenta ainda que Woody Allen nunca chegou a ser acusado pelo crime de estupro porque Mia desistiu de prosseguir na queixa devido à "fragilidade da vítima infantil, nas palavras do promotor".
Ela termina o texto invocando atores que trabalharam com seu pai adotivo, como Alec Baldwin, Diane Keaton, Scarlett Johansson e Cate Blanchett (indicada ao Oscar de melhor atriz pelo mais recente filme de Allen, "Blue Jasmine"). "E se fosse com o filho de vocês?", indaga.
Pelo Twitter, Baldwin discutiu com seguidores que cobravam dele um posicionamento sobre o caso. "Vocês estão errados se acham que há lugar para mim, ou qualquer outra pessoa de fora, neste problema familiar."
DEFESA
O depoimento de Dylan se seguiu à publicação, no dia 27 de janeiro, de uma defesa de Woody Allen feita pelo documentarista Robert B. Weide –diretor de um filme sobre Allen e da série "Curb Your Enthusiasm".
Ele também participou da montagem do clipe exibido no Globo de Ouro durante a homenagem ao cineasta.
Num texto para o site "The Daily Beast", Weide levantava pontos supostamente frágeis das acusações de abuso sexual contra Allen. Defendia que a relação com Soon-Yi, sua atual mulher e filha adotiva de Mia Farrow, começou quando ela já era maior de idade e que o casal não manteve jamais uma "relação de pai e filha".
Também diz que outro filho adotivo de Mia com o cineasta, Moses Farrow, afastado da convivência com a mãe, afirmou "finalmente ver a realidade" da vida que levava com a atriz, à qual se referiu como "lavagem cerebral". Segundo Weide, Moses retomou contato com o pai e Soon-Yi.
Ainda em defesa do cineasta, Weide recuperava dados do inquérito instaurado em 1993, diante das acusações de Mia Farrow sobre o abuso sexual contra Dylan. Segundo ele, "até as pessoas que dão a Woody Allen o benefício da dúvida e o defendem na internet se confundem em alguns pontos".
"Alguns dizem erroneamente que a Justiça o inocentou das acusações de abuso sexual. Na verdade, nunca houve tal veredicto, já que ele não chegou a ser acusado formalmente de nenhum crime, pois as autoridades jamais encontraram qualquer prova crível que desse suporte às acusações de Mia (e Dylan)."
Além disso, diz ele, o próprio processo de adoção das duas filhas de Allen e Soon-Yi falaria em favor do cineasta, já que "qualquer um que já adotou sabe do minucioso processo conduzido por assistentes sociais e órgãos do governo encarregados de cuidar do bem-estar das crianças".
Folha de São Paulo