Apenas 30% das vítimas formalizam queixas na polícia, e menos de 20% solicitam medidas protetivas
Duas em cada dez mulheres brasileiras já foram ameaçadas de morte por parceiros ou ex-parceiros, segundo uma pesquisa do Instituto Patrícia Galvão. Apesar da gravidade desse cenário, apenas 30% das vítimas formalizam queixas na polícia, e menos de 20% solicitam medidas protetivas. A falta de ações concretas por parte das autoridades alimenta o sentimento de impunidade, compartilhado por 67% das entrevistadas, que acreditam que agressores raramente são responsabilizados.
A diarista pernambucana Zilma Dias é um retrato vivo do impacto da violência de gênero. Além de perder uma sobrinha assassinada pelo ex-companheiro, ela própria foi vítima de um relacionamento abusivo. Durante anos, viveu sob cárcere privado, sofrendo agressões físicas e psicológicas enquanto era impedida de trabalhar e até de acessar cuidados médicos adequados durante a gravidez. A história de Zilma ilustra o ciclo de violência que prende muitas mulheres: agressões seguidas por pedidos de perdão, falsas promessas de mudança e novos episódios de abuso.
A situação das mulheres negras é ainda mais alarmante, com índices mais altos de ameaças e feminicídios. Esses dados ressaltam a interseção entre racismo e violência de gênero, agravando a vulnerabilidade de uma parcela significativa da população brasileira.
Embora a rede de atendimento seja considerada boa por 80% das entrevistadas, a mesma proporção acredita que ela não dá conta da demanda. O relatório também aponta que a maioria das mulheres reconhece as redes sociais e campanhas de estímulo à denúncia como ferramentas essenciais no enfrentamento da violência.
Casos como o de Camila, sobrinha de Zilma, mostram como o ciúme e a possessividade estão entre os principais gatilhos para o feminicídio. Aos 17 anos, mãe de uma criança, Camila foi morta com 12 facadas pelo ex-companheiro, que retornou à cidade onde ela vivia após uma separação. A violência aconteceu diante da filha pequena e escancarou o perigo de subestimar ameaças.
Apesar das dificuldades, Zilma encontrou forças para romper o ciclo. Após anos de abusos, conseguiu recomeçar sua vida e criar a filha sozinha, desafiando as previsões de seu agressor. Sua trajetória é um exemplo de resistência e reforça a importância de recursos acessíveis para ajudar mulheres a escaparem de relacionamentos violentos.
A realidade, no entanto, permanece dura: 90% das mulheres acreditam que os casos de feminicídio aumentaram nos últimos cinco anos. Essa percepção reflete não só a gravidade do problema, mas também a urgência de políticas públicas mais eficazes para proteger as mulheres e responsabilizar os agressores.
Para as que precisam de ajuda, há canais como o telefone 180, delegacias especializadas e a Casa da Mulher Brasileira, com unidades em várias cidades do país. Ainda assim, é evidente que enfrentar a violência de gênero exige mudanças estruturais que vão além do atendimento emergencial, passando por educação, combate à impunidade e promoção de uma cultura de respeito às mulheres.
Fonte: Sistema Paraíso